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Guias de Famalicão: Mulheres que deixam o mundo melhor do que o encontraram

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A Associação Guias de Portugal é uma associação assente no voluntariado e que promove o Guidismo, baseado no método criado por Robert Baden-Powell, sendo a maior e mais antiga associação feminina de Portugal. Trata-se de uma associação cuja missão é proporcionar às raparigas e jovens mulheres a oportunidade de desenvolverem o seu potencial como cidadãs universais responsáveis, tendo por base a vivência de quatro constantes: a Vida ao ar livre, a Vida em grupo, a Progressão e o Compromisso.

Tem uma metodologia muito caraterística de trabalho, conhecida por método Guidista, que consiste na abordagem pedagógica do Guidismo, e que combina na utilização de diversas ferramentas educativas. E quais são as ferramentas do método guidista? O compromisso com o Guidismo, com os outros e com o mundo, o sistema de patrulhas, onde se promove o espírito de grupo e a cooperação, o aprendo fazendo, uma metodologia de aprender através da experimentação, o autodesenvolvimento progressivo, que determina o percurso de crescimento de cada Guia, ao seu ritmo, estando envolvida nas atividades em que participa.

Para além da importância da simbologia, a cooperação ativa entre raparigas e jovens mulheres, em que se promove uma aprendizagem intergeracional, as atividades ao ar livre e o serviço comunitário, incutindo um sentido de responsabilidade pela sociedade, são outros métodos levados muito a sério por este grupo.

São diversas as atividades desenvolvidas, desde logo, o serviço ao próximo. Assim, as Guias realizam atividades como projetos de desenvolvimento comunitário junto da população mais carenciada, peditórios e recolha de bens ou alimentos, campanhas de sensibilização sobre uma área (higiene, alfabetização, ambiente, etc) ou atividades de preservação ambiental (recolha de lixo, limpeza de praias e florestas, plantação de árvores, como por exemplo o Clean Up the World).

Também para as Guias, o acampamento assume verdadeira importância. Como Baden-Powell dizia “é a escola dos esforços e do desprendimento. Nele as Guias aprendem a bastarem-se a si próprias, suprimindo as carências existentes no campo, com os meios que a Natureza oferece e com a técnica que aprenderam”.

Assim, o acampamento é o ex-libris da vivência do Guidismo, e nele utilizam a natureza como desenvolvimento das suas capacidades, desigdamente, fazer as construções com materiais que a natureza oferece, cozinhar com fogo, saber observar as estrelas, fazer raid e jogos noturnos.

De forma resumida, o Guidismo é um sistema educativo com um objetivo claro: desenvolver a resiliência e os valores de cidadania global.

Famalicão conta com 120 guias

As Guias encontram-se hierarquicamente organizadas a nível nacional, com a Comissão Executiva, a nível regional com Comissariado Regional e a nível local com as Companhias.

Na região de Braga existem 18 Companhias, compostas por 600 Guias, espalhadas por toda a localidade. No concelho de Famalicão existem quatro companhias, concretamente a 1ª Companhia de Famalicão, 1ª Companhia de Joane, 1ª Companhia de Pedome e a 1ª Companhia de Riba de Ave, contabilizando com um número de efetivo de 120 Guias (ver caixa).

Tal como acontece a nível mundial e nacional, também em Famalicão são dados passos, todos os dias, para que cada Guia deixe o mundo melhor do que o encontrou. Este é, de resto, mais um ensinamento do fundador do grupo Baden Powell.

Nesta tão simples frase encerra-se uma grande e desafiante missão na qual todas as Guias são convidadas a participar, por um lado, através do seu envolvimento e interesse pelas realidades do mundo, mas também, à sua medida, no contributo ativo em projetos de serviço.

1ª Companhia de Famalicão

Foi fundada em 1980, por Isabel Macedo, que ainda agora se encontra na companhia como efetiva colaboradora. A Companhia, desde então, compromete-se a ensinar as raparigas e jovens mulheres a desenvolverem-se enquanto pessoas na sociedade, tornando-se cidadãs mais atentas e responsáveis. Ao longo dos anos tem apostado na integração do movimento na comunidade, com atividades de voluntariado e colaborações com a paróquia de Famalicão. As atividades de voluntariado realizadas com a comunidade levaram ao reconhecimento da Companhia pelo presidente da Câmara de Famalicão, Armindo Costa, no ano de 2009. A título pessoal, Isabel Macedo recebeu ainda uma condecoração pelo presidente da Câmara Paulo Cunha, em 2014, pelos trabalhos voluntários prestados na associação Guias de Portugal.

1ª Companhia de Joane

Foi fundada a 29 de novembro de 1979, pela Chefe Miquinhas, impulsionadora do movimento nesta vila, acreditando, já na altura, no empoderamento das raparigas e jovens mulheres. A Companhia joanense é constituída por cerca de 30 associadas, distribuídas pelos vários ramos.

Esta participação ativa, mereceu, em 2009, um reconhecimento municipal pelo presidente da Câmara, Armindo Costa, através da atribuição do Prémio de Benemerência. Com a participação nas mais diversas atividades, a Companhia privilegia as atividades ao ar livre, no qual as Guias desenvolvem o aprender fazendo e as atividades de serviço com e para a comunidade. Em 2014 o Ramo Moinho desenvolveu um projeto intitulado por “BiblioGuias”, no qual tinha como missão a troca de livros e a experiência de leitura entre a comunidade.

Em 2022, a vila de Joane acolheu o Dia Mundial do Pensamento com o tema “O nosso Mundo, o nosso Futuro igual” no qual estiveram presentes mais de 400 Guias da Região de Braga.

1ª Companhia de Pedome

Foi fundada em 1977, completando, este mês de março, 46 anos. Conta, atualmente, com 28 elementos. Ao longo destes anos de existência, tentou sempre trabalhar com e para a comunidade, em parceria com outras associações existentes da paróquia.

A par das suas congéneres, a Companhia de Pedome dá valor à vida ao ar livre e ao trabalho em patrulha, tornando assim as Guias mais autónomas, mais participativas e seguras de si mesmas. “Trabalhámos para que as jovens de hoje sejam as mulheres de amanhã. Ao longo dos anos os guidistas, tentamos abordar os temas da atualidade, desenvolvendo atividades que as incluam na sociedade e as tornam mais sensíveis para os problemas dos outros”.

1ª Companhia de Riba de Ave

Foi fundada a 13 de abril de 1986, contando atualmente com 29 elementos. O objetivo e missão desta Companhia é alcançar mais jovens mulheres permitindo e ajudando-as a desenvolverem plenamente o seu potencial como cidadãs universais responsáveis. Para isso tem um método muito próprio: o jogo! “Privilegiámos sempre o ar livre, a vida em patrulha, o compromisso e a progressão”. Com base nestas quatro constantes, a Companhia de Riba de Ave tem trabalhado, ao longo destes anos, em projetos mundiais, que tiveram um impacto importante na comunidade e nas guias, como : o “Vozes contra a Violência” e o “Clean up the World”. No primeiro projeto, as guias Caravelas desenvolveram uma palestra sobre a violência nas mulheres, com o apoio de uma psicóloga e a APAV. O “Clean Up the World” é um projeto anual que consiste na limpeza das margens do rio ave, na Azenha Velha.

Em 2016, a Companhia recebeu o Dia Mundial do Pensamento, acolhendo 600 Guias da Região nesta Vila. Além disto, também, tem uma participação ativa no Banco Alimentar e também já dinamizou uma recolha de ração para o canil local.

Testemunhos

Isabel Macedo, fundadora da 1ª Companhia de Famalicão

“O meu primeiro contacto com o Guidismo foi em Viseu, uns anos antes de vir para Famalicão. Quando venho para Famalicão em 1979 o Padre Rego, páraco da altura, pediu-me que formasse a Companhia de Famalicão. A minha caminhada pelo Guidismo teve início logo em 1979, com um ano intensivo de formação, para depois, a 5 de julho de 1980, abrir a 1ª Companhia de Famalicão. Logo no primeiro dia apareceram 25 raparigas cheias de interesse e vontade de vivenciar o Guidismo. Desde a primeira reunião até agora, 43 anos depois, foram muitas as raparigas que passaram pelo Guidismo, podendo mesmo dizer milhares. Mas com toda a certeza, que o Guidismo teve impacto nas mulheres que hoje todas elas se tornaram. Olhando para trás e vendo a mulher que era aos 39 anos quando comecei o trilho, e a mulher que sou hoje aos 82 anos, sinto uma enorme felicidade por ter partilhado momentos únicos de aprendizagens e conhecimentos com todas as raparigas que se cruzaram comigo. Fazendo uma analogia com uma família, e se há 43 anos tinha as primeiras Guias a entrar na sede eram como filhas, hoje as avezinhas que todos os sábados vão para as reuniões são como minhas netas e este sentimento de pertencer a uma grande Família que se foi construindo é gratificante.”

Sofia Costa, antiga Guia da 1ª Companhia de Famalicão

“A minha jornada nas Guias começou quando tinha 7 anos, era eu uma menina tímida e muito sossegada. Lembro-me de ser avezinha, estávamos divididas entre patrulhas e tínhamos cargos a cumprir, e eu como secretária que era, chegava à sede e começava a preparar a reunião daquele dia. Fui crescendo sempre com este sentido de organização e responsabilidade, que se tornou um traço forte da minha personalidade até aos dias de hoje. Não foi uma passagem tão curta quanto isso, foram 11 anos. Fiz amizades, conheci várias pessoas e mantive-me presente na comunidade através das nossas iniciativas. Cada vez que vestia a farda, fazia-o com orgulho, estima e vaidade. Ensinou-me tantas coisas e ensinou-me a dar valor às pequenas coisas. Esta etapa terminou num certo momento da minha vida, quando achei que fazia sentido tendo em conta as minhas ambições pessoais e profissionais, mas ainda hoje tenho em mente as leis das Guias que regem continuamente a minha vida. Hoje, passados 20 anos desde que esta jornada começou, agradeço muito por cada acampamento, por cada raid, por cada atividade e a cada Guia com quem me cruzei, porque se hoje sinto orgulho na mulher que sou, devo também ao facto de ter sido Guia.”

Rafaela Silva, Delegada Regional do ramo caravela e antiga Chefe de Companhia da 1ª Companhia de Riba de Ave

“Ser Guia é ver e pensar mais além, é ser especial e fazer coisas especiais, é um desafio e uma descoberta pessoal. Faço parte do movimento Guidista há 21 anos e posso afirmar que, as Guias trouxeram-me novas oportunidades, através da construção e desenvolvimento das minhas capacidades, atitudes e valores, pela oportunidade de aprender fazendo, combatendo assim, as minhas limitações, por privilegiar o contacto direto com a natureza e o meu crescimento, pela consciencialização ambiental, por capacitar-me para a liderança, pela responsabilização, cuidado e amor próprio, pelo Outro e pelo o Mundo, pelas amizades que construí e que se tornaram para a vida, pelo contributo para o meu empoderamento, entre muitas outras coisas fantásticas. Resumidamente, ser Guia é ser feliz!”

Susana Pereira, antiga presidente da junta de freguesia de Riba de Ave

“Enquanto Presidente de Junta entre 2013 e 2021, pude testemunhar como a Companhia desenvolvia as suas atividades e contribuía para o desenvolvimento das capacidades e valores das meninas e jovens mulheres. As Guias são líderes confiantes e responsáveis. O Guidismo oferece, na minha opinião, um ambiente seguro e solidário, onde as Guias se podem expressar livremente. Elas aprendem a trabalhar em equipa, a liderar e a tomar decisões, características valiosas para as suas vidas pessoais e profissionais futuras. Foi uma honra para mim poder colaborar com a Guias de Riba de Ave, organizaram atividades que atraíram muitas outras Guias, deram a conhecer a nossa Vila e, acima de tudo, deram e dão um exemplo excecional de como podem colaborar na comunidade/com a comunidade”.

Aida Peneda, mãe da Lara (aventura) e Telma (caravela) 1º companhia de Pedome

“Tenho as minhas filhas nas Guias, uma há 10 anos e outra há 4 anos e vejo que lá, elas são felizes. Penso que as Guias são uma mais valia para o crescimento delas, ajuda-as a serem umas jovens mulheres mais independentes, responsáveis, confiantes em si mesmas, amigas do próximo e a superarem cada desafio e dificuldade na vida. Nas Guias têm a oportunidade de aprenderem com outras pessoas, desenvolvendo o espírito de grupo. A vida em campo, as atividades na sede, os desafios para casa, tudo isso, contribui para o crescimento delas. Isso reflete-se nelas, na responsabilidade ao compromisso, na independência das tarefas domésticas, no cuidado com o mundo, na simpatia com o próximo, entre outras coisas. Concluindo, estar nas Guias é ser feliz”.

Sara Faria, Guia Moinho, da 1ª Companhia de Famalicão

“Fazer parte das Guias é como estar em casa, rodeada de muitas irmãs espalhadas pelo mundo inteiro. Ao longo dos anos, de todas as experiências que vivemos, aprendizagens ao ar livre, que nos ensinam muito mais do que fazer construções, desafios que ultrapassamos e que desenvolvem e empoderam todas as meninas, jovens e adultas que embarcam na vida Guidista. De todos os momentos partilhados, cheios de sorrisos, aprendi e continuo a descobrir que ser Guia é isso e muito mais. É sobre as amizades que construímos, os ideais que defendemos e que ficam connosco, as vida que é capaz de mudar. Chegar a todas as reuniões, atividades, acampamentos e ser recebida com abraços e brilhos nos olhos, refletir por nós e pelo mundo, onde e como podemos ajudar a “deixar o mundo um pouco melhor do que o encontrámos” (L. R. Baden-Powell). Torna-se num compromisso por um bem maior, pela nossa comunidade, pelas nossas famílias, por nós. Ser guia significa estar “sempre alerta para servir”, ser forte, independente, amiga de todos, protetora da natureza, defensora da paz, na companhia desta grande família que acaba por se tornar na nossa segunda casa.”

Ana Sofia Martins, antiga Guia da 1ª Companhia de Joane

“Desde que me lembro que as Guias fizeram parte da minha vida: fiz parte da associação desde os meus 6 anos e esta acompanhou-me até à minha idade adulta. Desde a altura em que brincava com bonecas até aos meus dias de estudante universitária, as Guias estavam lá, e eu sempre soube que podia contar com as amizades que elas me proporcionaram. Cresci na associação e lá aprendi valores humanistas que levo para a vida e que aplico todos os dias no meu trabalho: o altruísmo, a amizade, o voluntariado, o saber dar-se. Aprendi a ser autónoma, responsável e a ser uma jovem mulher mais capaz e pronta para os desafios profissionais e pessoais que possam vir na minha direção. Fiz amigas que considero irmãs, ri, chorei, cantei até ficar sem voz, tomei banhos de água fria, andei quilómetros sem fim, mas sinto que tudo isso foi uma parte importante da pessoa que sou hoje. E também aprendi coisas práticas, aprendi a montar uma tenda, a construir mesas com paus e corda, a acender uma fogueira, a fazer um abrigo para dormir, e fi-lo sempre acompanhada de raparigas e mulheres incríveis. Fui Guia e uma parte de mim será sempre Guia. De menina a mulher adulta responsável, comprometida e empoderada: foi o que as Guias fizeram por mim!”

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