Famalicão
Ana Pereira: “O meu sonho tornou-se realidade”
É enfermeira, tem 40 anos, é mãe de um menino de 11 anos e é piloto de ralis.
Ana Pereira é a prova que nunca é tarde para cumprir um sonho e a sua faceta independente, altruísta, autónoma e “muito sonhadora” veio ao de cima.
O seu dia a dia é passado como enfermeira da VMER da ULS do Médio Ave e, de tanto sonhar, decidiu, com toda a convicção, partir para a realidade.
“Desde os meus 20 anos que tenho um gosto especial por ralis. Depois de começar a fazer a prevenção médica em ralis percebi que um dia iria estar ao volante de um carro”. Isto foi em 2021 e, no ano seguinte, sem mais rodeios, Ana Pereira cumpriu o sonho e fez o seu primeiro rali. “O meu sonho tornou-se realidade”.
A conversa com a reportagem do OPINIÃO PÚBLICA aconteceu, orgulhosamente, ao lado do seu carro de competição, um Peugeot 106 GTI, depois de Ana cumprir uma noite de serviço no hospital.
“A aventura começou muito solitária”, conta a piloto, que assegura que ninguém acreditava muito nela e teve que avançar com tudo por sua conta e risco. “Resolvi alugar um carro e tive um grande apoio, na altura, em termos de orientação neste mundo, do co-piloto José Janela”. Como mulher persistente que é, foi à procura de uma equipa e passados quinze dias estava a fazer o rali de Santo Tirso.
“Recordo que foi o melhor rali que fiz em termos de alegria, satisfação e adrenalina. Estava com aquela sensação de que era mesmo aquilo que deveria estar a fazer, nem que fosse a única vez”, confidencia.
Ana tem a noção que o mundo dos ralis é, maioritariamente, de homens mas, em momento algum, sentiu-se inferiorizada. “Antes de mais, apenas tinha que provar a mim mesma que era capaz, capaz de estar ali… Depois, senti-me super bem integrada no ambiente”.
Na verdade, para Ana o ambiente sempre foi salutar, de boa disposição, entreajuda e companheirismo, mas não esconde a vontade de ganhar aos homens no seu reduto. “São muito poucas as mulheres em prova. É um mundo tão masculino mas sinto-me integrada”, reitera.
Nos ralis Ana tem um foco: “chegar ao fim, sem nos magoarmos e sem estragar o carro”. “Depois a adrenalina é incrível e é o que mais me motiva neste desporto. Quando estamos ao volante não conseguimos ver mais nada, nem pensar em mais nada. A velocidade a que vamos não nos permite distrações”, descreve a enfermeira.
Quanto ao futuro e aos objetivos a que se propõe atingir enquanto piloto, Ana é prática e diz que a meta principal que tinha já atingiu, que foi em 2023 ganhar o Campeonato na equipa feminina, o Start e o Promo Norte.
Para esta época, a piloto ainda não tem objetivos traçados porque precisa de apoios e patrocínios . “Está difícil de conseguir. Isto é um desporto caro”. Aliás, quando se fala em valores, Ana Pereira sublinha que tudo é caro e tem validade. “O fato tem validade, o capacete tem validade, os backets do carro e os cintos têm validade. Tudo tem que ser substituído frequentemente, o que eleva muito o custo de estar numa competição como esta, já para não falar no valor de inscrição das provas, na manutenção do carro etc…”
Mas o sonho não morre e a enfermeira alimenta-o todos os dias. Admite que os seus ralis favoritos são os da casa, o de Famalicão e o de Santo Tirso, os quais pretende fazer este ano “conforme os apoios”. Prefere ralis de asfalto, aos de terra, desde logo, pela necessária adaptação do carro a ralis de terra. “Todo o backup do carro tem que ser alterado e depois voltar a alterar para asfalto”.
Como exemplo a seguir no mundo dos ralis, o ídolo da Ana é Armindo Araújo, atual campeão Nacional do CPR (Campeonato Portugal de Ralis) e com nome no mundial de ralis. Mas estando agora a correr no Regional, nomeadamente o Star, Ana tem estado mais focada naqueles que correm à sua volta, tendo sempre o nome do famalicense José Janela como seu grande impulsionador e mentor.
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