Famalicão
ENTREVISTA:“Precisamos de políticos que não abandonem as pessoas”
Eduardo Oliveira tem 37 anos e é enfermeiro de profissão no Hospital de Famalicão. Lidera a Concelhia de Famalicão do Partido Socialista e candidata-se à Câmara Municipal convicto de que vai vencer as eleições do próximo dia 26 de setembro. Saúde, habitação e transportes são as suas principais prioridades.
OPINIÃO PÚBLICA: Quando, há um ano e meio, assumiu a liderança da concelhia já tinha o objetivo de ser candidato à Câmara?
Eduardo Oliveira: Há ano e meio, decidimos criar um projeto para inovar o PS em Famalicão e para devolver, novamente, a confiança a toda a comunidade famalicense. Se tinha em mente ser candidato à Câmara? Não era esse o meu objetivo. O meu objetivo era ajudar o PS. Os meus camaradas consideraram que eu era o nome indicado para avançar e aqui estou, com o propósito de dar a vitória ao PS.
Na altura, venceu umas eleições internas muito disputadas, com uma espécie de lista alternativa à dos chamados históricos do partido. Hoje, o partido está unido em torno da candidatura?
O PS é constituído por um conjunto de pessoas que são livres de ter opinião, não há censura. E nós temos que saber respeitar isso. O passado é o passado, o presente é o presente e o futuro é o futuro. Atualmente, o PS está focado em vencer as próximas autárquicas, está unido, e acredito que vamos conseguir vencer.
Candidata-se com o lema “Um Concelho para Todos”. Famalicão não tem sido esse concelho?
Seria um concelho para todos se tivesse saneamento básico para todos, se tivesse transporte público para todos. Mas não é isso que acontece em Famalicão. Percebemos, ao ouvir as pessoas, que Famalicão não é um concelho para todos.
O que é preciso mudar ou fazer?
É garantir que toda a comunidade tem saneamento básico; que tem transportes públicos com mais horários, mais itinerários e amigos do ambiente; que tem saúde de qualidade, que não passa só por ter bons profissionais de saúde, mas por ter boas infraestruturas e bons equipamentos. É ter um novo hospital…
Lançou essa ideia, mas esta é uma competência da Administração Central. O que pode uma autarquia fazer?
Esta é uma competência de todos. E a saúde dos famalicenses é responsabilidade do governo municipal. Chegou o momento de agir e melhorar a saúde em Famalicão, a começar pelas Unidades de Saúde Familiar que necessitam de novos equipamentos e espaços. E isso será possível através do PRR [Plano de Recuperação e Resiliência], que reserva uma fatia para os cuidados de saúde primários. Mas temos que ser ambiciosos e querer um novo hospital. Não será com o bolo financeiro do PRR, é verdade, mas podemos começar por ouvir as pessoas, as entidades e profissionais da área da saúde, os partidos… no fundo, criar um movimento cívico para reivindicar saúde de proximidade.
Seria um hospital construído de raiz?
Sim, porque queremos garantir as especialidades que já temos, mas, ao mesmo tempo, ter mais especialidades, e o atual hospital não tem por onde alargar. Com o vamos fazer? Depois da criação do movimento cívico, teremos condições para fazer ver ao Governo que temos, obrigatoriamente, de ter um novo hospital. É esse trabalho que tem de ser feito e acredito, sinceramente, que vai ser possível.
Aponta os transportes como outra das vossas prioridades. A verdade é que, na última reunião de Câmara foi aprovado o financiamento para uma nova rede entre Famalicão, Santo Tirso e Trofa, que os vereadores do PS votaram contra …
Estamos a pouco tempo das eleições autárquicas, a decisão terá que ser tomada até final do ano, pelo que havia tempo para que fosse o novo executivo a decidir. Tomar uma posição destas, nesta altura, é oportunismo e eleitoralismo. Nós queremos mais transportes públicos para a nossa comunidade, mas queremos ser sérios.
Não está, por isso, contra esse investimento?
Somos defensores de todas a medidas que levem a que os famalicenses tenham transportes públicos de qualidade. Mas vamos mais longe e entendemos que, também aqui, o digital pode ter um papel muito importante, por isso é que uma das nossas prioridades é a inclusão digital. No caso dos transportes, defendemos a criação de uma aplicação para que a comunidade possa saber onde se encontra o transporte que pretende usar. Outra das propostas é a criação do táxi partilhado, em cooperação com as Juntas de Freguesia.
A questão da habitação é outra das vossas prioridades, e também de outras candidaturas. O que propõe o PS?
Há duas situações distintas que defendemos: habitação acessível para toda a comunidade e para as novas famílias e habitação residencial estudantil. Há vários estudantes que procuram o ensino superior privado em Famalicão para fazer a sua formação e não têm facilidade em encontrar casa. O ensino superior é uma fonte de riqueza para o concelho, traz desenvolvimento para o nosso comércio tradicional e restauração, mas para que isso aconteça é importante dar condições aos nossos alunos e àqueles que são de fora a procuram Famalicão.
Mas que soluções é que apresenta para a resolução desses problemas?
Na questão do ensino superior, a solução é uma residência estudantil para garantir que os alunos têm um quarto a um preço acessível. Quanto à habitação cível, é extremamente importante garantir que as nossas famílias tenham em Famalicão casa para habitar a um preço acessível. Temos condições, através do PRR; de fazer construção e investir na habitação cível, com rendas a preços controlados. É isso que queremos para Famalicão.
Como foi ou está a ser preparado o vosso programa eleitoral?
Desde que eu ganhei as eleições e houve uma mudança na Concelhia socialista, existe um trabalho do partido junto das pessoas. Ouvimos a comunidade para perceber quais são as suas necessidades. Por causa da pandemia não podemos estar juntos de forma presencial, mas fizemo-lo através dos meios digitais, envolvendo a comunidade de todas as freguesias – a tal inclusão digital que defendemos no nosso programa. Criamos também uma aplicação na nossa página de candidatura para que as pessoas pudessem dar as suas opiniões e agora ouvimos as pessoas, novamente, através do porta a porta
Quais foram as necessidades mais apontadas?
Manifestaram falta de saneamento básico, falta de transportes públicos, falta de habitação e espaços de lazer e, acima de tudo, manifestaram falta de política de verdade.
Neste momento, o PS está reduzido a três vereadores no executivo e teve dos piores resultados eleitorais há quatro anos. O que mudou para o PS possa ganhar estas eleições?
Mudou muita coisa. Nestes quatro anos, a atual coligação teve uma maioria expressiva, a comunidade deu-lhe esse apoio. Contudo, depois desta pandemia, em que as pessoas passaram momentos muito difíceis, precisamos de políticos que não abandonem as pessoas.
É uma crítica direta a Paulo Cunha?
Não. O que estou a dizer é que ganhei as eleições internas há quase dois anos e nunca me passou pela cabeça que iriamos viver esta pandemia. Foi difícil, mas sabe qual foi a minha preocupação? Saber como íamos ajudar a comunidade. E fizemo-lo, pedindo apoio aos empresários para ajudar as nossas associações humanitárias, as IPSS’s, o hospital. Procuramos, de casa, fazer política, que mais não é do que servir as pessoas, e também estivemos sempre ao lado do governo municipal nesta matéria. E depois do pior ter passado, eu não abandonei as pessoas, estou aqui como candidato do Partido Socialista.
O facto de surgirem três novas candidaturas, poderá baralhar os resultados?
Quantas mais candidaturas houver, melhor é para a nossa democracia. O importante é termos a capacidade de nos respeitarmos uns aos outros. Não terei qualquer prurido, depois de vencermos estas eleições autárquicas, de aproveitar uma ou outra medida do programa das outras candidaturas, desde que as mesmas vão de encontro às necessidades da nossa comunidade.
Nas freguesias, dois dos três autarcas do PS, em Castelões e Joane, vão avançar com candidaturas independentes. Significa um revés para o partido?
Essa situação já não é nova. Respeito a posição de cada um, mas posso dizer que o PS convidou-os a encabeçar as lista nestas autárquicas. O convite não foi aceite, até à data de hoje sem qualquer justificação. De qualquer forma, não abdicamos de apresentar candidaturas nessas freguesias e são boas candidaturas, de pessoas credíveis e defensoras dos valores do PS: humanismo e solidariedade.
Espera conquistar mais juntas nestas eleições?
Claro que sim, e temos fortes candidatos. Aliás, foi um processo difícil porque procuramos os melhores.
O que seria um mau resultado para o PS?
Eu só penso em bons resultados. Eu vejo sempre a parte boa das coisas. Sou muito positivo e talvez por isso é que, em tudo o que me candidatei, nunca tenha perdido. Face a 2017, o Partido Socialista só vai ganhar.
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