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Desporto

Inês Silva: “Xadrez é uma arte, é algo belo, que apela à nossa criatividade”

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A atleta famalicense Inês Silva sagrou-se, em junho passado, Campeã Nacional Feminina de Xadrez na vertente Clássicas. Descrito assim parece só mais um feito, mais uma notícia e um resultado desportivo. Mas não é. É muito mais do que isso.

Com apenas 13 anos, a atleta, que representa a equipa CX A2D desde 2012, já o tinha conseguido e o feito valeu-lhe o recorde de campeã nacional mais jovem de sempre, marca de que ainda é detentora.

Mas quem é a Inês? O que o fez apaixonar pelo xadrez? O que significa para ela ser campeã nacional de uma modalidade considerada de elite?

Tem apenas 22 anos, está a frequentar o quinto ano de medicina e começou a praticar xadrez “muito novinha”, influenciada pelo seu pai “que sempre foi xadrezista” e foi em casa que aprendeu as regras do jogo. Não se lembra exatamente do primeiro momento em que começou a jogar, mas recorda-se do primeiro torneio em que participou, e à pergunta “o que é que te desperta interesse na modalidade?” o sorriso abre-se ainda mais e Inês responde enternecida: “Xadrez, pode não parecer, mas é uma arte, é uma coisa muito bonita e que apela à nossa criatividade”. Não se trata só de matemática e cálculo, frisa a xadrezista, que olha para o momento do jogo como algo muito belo. “Qualquer jogador de xadrez consegue perceber o que quero dizer”.

Com uma linguagem muito própria, a Inês explica que gosta de jogar partidas “muito clássicas”. E o que é uma partida clássica? “É uma partida onde cada jogador tem uma hora e meia para concluir o total dos seus lances.  Dependendo de outros fatores, são, no fundo, partidas que podem durar várias horas”. E a Inês já jogou partidas que chegaram a durar seis horas, o que a fez crescer a vários níveis. É o que, na sua opinião, torna o xadrez “tão interessante”. “É o que nos faz ganhar resiliência, estarmos ali seis horas a batalhar com os nossos próprios pensamentos, a sabermos que estamos a cometer erros, a ter que gerir tantas coisas…” Outro fator importante – segreda-nos a Inês -, aprendido ao longo dos anos, é não demonstrar emoções, através de expressões faciais, aos oponentes. 

Consciente da intensidade da modalidade, quando ingressou na Universidade colocou de parte o xadrez. “Tinha receio de não conseguir ter tempo para tudo e gerir o meu tempo”. Mas, no ano passado, Inês voltou às competições porque a paragem a permitiu perceber que é possível conciliar tudo num dia de 24 horas. “Não tenho que deixar de ter objetivos fora da universidade e quero continuar a integrar a seleção nacional”.

E o que dizer aos jovens de forma a que percebam que tudo é possível quando há vontade? O facto de, desde mais nova, fazer muitas atividades ensinou-a a gerir o tempo. Tal como nos explica, trata-se de ser produtiva num espaço mais curto de tempo. “Acho que as horas acabam por render mais, por exemplo se eu tiver duas horas para estudar em vez de uma tarde inteira faz com que aproveite verdadeiramente aquelas duas horas”.

E tal como todas as jovens da sua idade, a Inês também sai com os amigos e garante que dá imenso valor ao outro lado da vida. “Não pode ser só trabalho, ou estudo…”.

Num futuro mais próximo, em setembro, a atleta vai participar nas Olimpíadas de Budapeste, onde representará a Seleção Nacional em equipas. Quanto à sua prestação, espera “fazer o melhor possível, continuar a evoluir e subir no ranking nacional”.

Com uma visão muito esclarecida sobre a modalidade, Inês Silva diz que tem “evoluído imenso” ao longo dos últimos anos, desde logo porque agora há muito mais teoria e mais necessidade de estudar. “Por outro lado, acho que há muitas pessoas novas a entrar e com interesse sem ter influência de outros”. Reconhece que a popular série “Gambito de Dama” deu um empurrão ao surgimento de novos praticantes, e que apesar de muito romanceada, “dá uma visão muito bonita do que é o xadrez”.

“O sucesso vem da geração de ciclos positivos”

Mário Oliveira é professor de Matemática e foi ele que, no ano letivo de 2003/2004 começou este Clube de Xadrez da Didáxis (A2D). Aliás, o clube está a festejar 20 anos e estão previstas diversas atividades ao longo do ano.

E como é que se mantém um clube de xadrez com tanto sucesso e tantas conquistas durante 20 anos? “Começou por ser apenas no âmbito do desporto escolar, mas o sucesso foi muito grande e assumimos, desde aí, o desafio de começar a competir no desporto federado”.

Assim, de forma sistémica, começaram a surgir os resultados relevantes, quer no concelho, no distrito e pouco depois a nível nacional. E este é o segredo de tantos pódios, taças e medalhas. “Isto depois é agregar, ou seja, os mais fortes motivam os que estão a começar, e os ciclos positivos geraram ciclos positivos cada vez maiores”, explica Mário Oliveira, que é um apaixonado pelo xadrez.

O clube começou com uma turma pequena, de 20 alunos, mas ainda enquanto escola Didáxis de S. Cosme, chegou aos 200 atletas federados. 

Neste momento tem cerca de uma centena de praticantes, divididos pelos concelhos de Vila Nova de Famalicão e Guimarães.

No que diz respeito a palmarés, a história começa em 2006/2007 quando o clube foi Campeão Distrital Absoluto por equipas. “Foi aí que realmente um grupo de alunos, e eu também fazia parte da equipa, conseguiu essa alavanca”.

Na verdade, os anos passaram e o pólo da Didáxis de S. Cosme deixou de existir, o que não impediu que o clube continuasse a ascensão. “O sonho começou aqui e perpetua-se”, frisa o professor.

Para celebrar os 20 anos vai realizar-se, nomeadamente, uma Maratona de Xadrez no próximo dia 20 de julho, em que vão participar mais de 100 atletas. “Começamos a jogar de manhã, jogamos durante a tarde e vamos só acabar à noite. Desta forma vamos tentar fazer parte do recorde do guinness em que a Federação Internacional de Xadrez vai tentar jogar o máximo de partidas num só dia”. Desta forma, Famalicão também entra nas contas para fazer parte deste recorde mundial.

Para o futuro pretende-se um crescimento sustentado, com jovens formados de forma didática. “Enquanto houver estrada para andar a gente vai continuar”, diz Mário Oliveira, que garante a sua continuidade enquanto dirigente do A2D.

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