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Maria Augusta Santos: “Sou uma mulher completamente realizada”

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A entrevista decorreu numa sala da Escola Camilo Castelo Branco e não foi por acaso. Maria Augusta Santos passou muitas horas da sua vida naquelas salas e corredores, onde deu aulas durante 43 anos. Fará, no dia de 1 de agosto, dois anos que se aposentou.

Nasceu a 30 de agosto de 1955 em Lousado e hoje, passados 68 anos, vive na casa onde nasceu. É casada, tem uma filha e duas netas e é na cozinha onde encontra espaço para a reflexão. “Estar na cozinha é o momento de refrescar as ideias, relaxar. Gosto de cozinhar, de ter gente em casa que aproveite o que faço… Dizem que cozinho relativamente bem”, diz, entre risos.

“Quem é Maria Augusta Santos?”, perguntamos. A resposta é peremptória: “É uma mulher do povo, que gosta do convívio, de dialogar, tem um conceito familiar muito intenso, que dedica muito tempo à família, mas também que está sempre de portas abertas para ajudar quem precisa”.

Voltemos à escola, onde a, para sempre professora, percorre os corredores “da sua segunda casa” entre abraços e beijos para matar saudades. “Estive cá muitos anos e desde muito nova e tenho aqui muitas amizades. Depois de acabar a faculdade fui dar aulas para Guimarães, onde estive um ano. Fui para Lisboa, entre 1980 e 1982, fazer a minha profissionalização em exercício. Depois de regressar a Famalicão estive um ano na D. Sancho e, depois, em 83 vim para aqui”.

Como professora de Geografia marcou diversas gerações e, num exercício de memória, define-se como sendo exigente dentro da sala de aula. “Não podia ter qualquer atitude que menosprezasse um aluno… tinha de dar o exemplo para poder exigir de cada um deles um comportamento igual comigo. Era a minha bússola orientadora”.

E a fórmula funcionou. Ao longo de 43 anos de carreira docente sublinha, orgulhosa, que nunca teve qualquer problema. A comprovar isso mesmo a professora fala da “excelente relação” que tem com muitos ex-alunos até aos dias de hoje, com quem tem uma “amizade forte”. “Isso deixa-me muito vaidosa até”.

Garante que não sente falta do ritmo diário do trabalho, mas sim do contacto com os seus alunos. “Durante muitos anos lecionei só ao 12º ano e o convívio com pessoas desta idade faz-me falta”. 

Mas os dias de Maria Augusta Santos são tudo menos vazios. Mulher de causas, está na política “mais ativa” desde finais da década de 80 e é militante do Partido Socialista e, neste momento, vereadora da oposição na Câmara Municipal. O primeiro contacto foi como deputada na Assembleia de Freguesia de Lousado, depois secretária da Junta de Freguesia e, ainda em Lousado, foi presidente da Junta durante um mandato. 

Foi deputada da XIII Legislatura, de 2015 a 2019 e admite que passar quatro anos em Lisboa “foi duro”. “Eu resumo o meu mandato com muito trabalho. E digo isto com muito orgulho e sem falsa modéstia. Integrei-me bem nas Comissões e foi-me dito muitas vezes que honrei o meu mandato, o meu concelho, o meu país, o meu partido e o meu governo”, diz, sem rodeios, Maria Augusta que considera que foi a maior beneficiária destes quatros anos na Assembleia da República “porque aprendi imenso”.

E quanto à participação das mulheres na política? Maria Augusta Santos defende que têm sido dados passos importantes, mas que ainda há um longo caminho a percorrer e recorda que em Famalicão existem 4 mulheres que são presidentes de Junta, sendo as restantes 30 lideradas por homens. “Pergunto se não existem mulheres capazes para assumir as lideranças. Concerteza que sim, mas o problema é que de cada vez que uma mulher ocupa um lugar na política um homem tem de sair”, frisa, recordando que é tudo uma questão de “equilíbrio de poder”.

Em Portugal, em 2019, as alterações na Lei da Paridade, tentaram caminhar para a igualdade no número de mulheres e de homens em cargos públicos. Uma das principais ideias foi subir a quota mínima por género nas listas eleitorais, de 33% para 40%. Para Maria Augusta Santos estas medidas surtiram efeitos, mas não os necessários e espera que a resposta esteja na geração que se segue. “Queremos que a Lei da Paridade chegue aos 50% para que haja efetiva igualdade de oportunidades”.

“Sou uma mulher completamente realizada, tanto a nível profissional, como pessoal”, aponta Maria Augusta Santos, deixando antever que este pode ser o segredo para estar de bem com a vida. “Gosto de ler, viajar, conviver e agora tenho isso. Sou uma sortuda”.

A propósito do Dia Internacional da Mulher deixa um apelo. “Que as mulheres tenham orgulho naquilo que são e aproveitem as suas potencialidades para marcarem a diferença”.

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