Opinião
Sabedoria popular e xenofobia
A sabedoria popular tem particularidades que definem as “características” e as qualidades de um povo. Pelo contrário, a xenofobia é, em regra, a antítese desses atributos; e é assim porque o ódio aos estrangeiros pode ser uma tradição de certas camadas (elites) da população por vezes confundidas com o próprio povo.
Não é de hoje – e nem sequer é uma tradição em Portugal ser contra os emigrantes – o intercâmbio entre os povos, as deslocações transfronteiriças, o socorro e abrigo de uns, amanhã de outros, depois também de nós próprios!
A história dá-nos conta de, nessas movimentações, as razões principais se deverem a refúgio da guerra, a sobrevivência a catástrofes naturais, a melhoria das condições de vida, mas também à exploração humana e, durante muito tempo ao comércio escravo.
Na bíblia, pouco sei, encontramos todo o tipo de relatos daquelas situações.
Ora, ser solidário, contribuir para a paz, dar ajuda aos necessitados é uma virtude de sabedoria popular, mesmo que por vezes não saibamos expressá-la de forma tipo erudita, o que só, em minha opinião, alguns são capazes, desde logo os poetas do povo, da natureza, do ambiente, da paz, da vida…
É muito estranho pessoas que se dizem Cristãs e Católicas revelarem-se na xenofobia!
Na campanha para as presidenciais portuguesas que decorrem muito em breve temos dois exemplos de candidatos que representam bem a “virtude” e a “crueldade” humanas expressas no título, que se opõem diametralmente: Vitorino Silva, que já foi do PS e fundou um partido que diz do povo, e Ventura, que lidera um partido que quer destruir a democracia, o sistema, o humanismo, excluir os já “excluídos” da sorte e os estrangeiros, pelo menos os refugiados das guerras e da fome.
No debate que os dois mantiveram, esses aspetos ficaram bem vincados. A intrepidez já vulgarizada do líder do Chega, profusamente demonstrada no frente a frente com João Ferreira, naufragou completamente perante a simplicidade e sabedoria populares de “Tino de Rans” expressas em várias ocasiões, de que vou recorrer a três para iluistrar a minha opinião:
– Sabendo que vinha para este debate fui a Peniche inspirar-me, precisamente junto ao mar, para o qual há umas dezenas de anos um grupo de presos políticos teve a coragem de fugir sujeito a morrer logo ali, para continuar a lutar pela libertação de um povo da ditadura!
– Na praia apanhei várias pedras, de variadas cores, para mostrar que o mar que as trás é mesmo que trás as pessoas!
– O mesmo mar que ao contrário de construir muros é um meio de fazer caminhos entre os povos, muitas vezes inseguro e cemitério de milhares de vidas, destrói barreiras e ajuda a humanidade como uma grande fonte de riqueza que deve ser de todos!
Podemos ter uma opinião diversa, podemos não gostar dos comunistas ou de outros revolucionários, mas o que o Tino referiu sobre a fuga da Fortaleza de Peniche, na sua simplicidade popular é facto real demonstrativo da grande coragem na luta contra o Estado Novo, cujo derrube é a causa primeira de podermos viver em liberdade.
Quanto às pedras é uma metáfora, talvez mesmo uma parábola, do mundo global, das raças, das etnias e das minorias que só interesses mesquinhos, contrários aos efeitos do mar, justificam os preconceitos e a xenofobia.
A destruição dos muros outra vez inspirada no mar é um apelo contra todas as barreiras de ódio de exploração de pessoas contra outras pessoas.
Esta sabedoria popular do Tino, que eu disse não ser erudita, pode não se comparar com Aleixo, Camões, Florbela Espanca, baseia-se no mar, inspiração dos portugueses há centenas de anos, sim para o comércio mas também ajudou, ajudando-se, muitos outros povos de outras raças…
Sejamos sabedores populares mas nunca xenófobos.
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