Opinião
Deixem-me trabalhar
A frase ficou registada para a posteridade. Foi uma proclamação que só teve “impacto” (mais sarcástico que de realismo), não pela “vontade” de trabalhar de quem a proferiu, mas pelo ineditismo naquela área da vida pública.
Diga-se de passagem que é uma “tentação” das oposições na vida política, tão só pelo confronto e tentar colocar os executivos em maus lençóis.
Mais que uma decisão para levar à prática e produzir os efeitos aprovados, pretende-se criar engulhos e boicotar a atividade governativa.
É muito raro acontecer nos meandros de um governo, pelo menos que venha a lume – ao contrário da “celebérrima” demissão irrevogável –, sob pena de demissão do membro “revolucionário” ou da queda de governo quando se trate de uma coligação.
Já nos meios autárquicos a prática é mais comum, pois o paradigma da constituição dos executivos é diferente da dos governos. E temos vários exemplos no concelho: um foi em Lousado, era presidente de junta uma senhora eleita pelos MIL, sendo que secretário e tesoureiro eram da oposição; foram 4 anos de conflito surdo. Um outro caso, que não chegou a vias de facto, o presidente de junta eleito proferiu: na próxima reunião da AF já não me “pisa os sapatos”; subentenda-se: “substituo-o com a conivência dos restantes membros da lista”…
A frase em título foi uma fuga às respostas à comunicação social por quem, com uma simples rodagem ao carro, saiu do congresso chefe do partido, foi o Primeiro Ministro que mais tempo esteve à frente do governo, foi PR dois mandatos, portanto, foi a pessoa mais responsabilidades teve na gestão do país, sobretudo governou numa fase em que também entraram carradas de dinheiro e que, estruturalmente, deixaram o Estado num atraso organizacional de que continuamos a pagar a fatura, alegadamente na cauda da Europa.
Porém, certos entendidos, só se lembram e acusam o partido que mais tempo governou nos últimos 20 anos!
Pois, é preciso honestidade intelectual…
Vem isto a propósito da “coligação negativa oposicionista” na AR. Eu defendi, na véspera das eleições, uma vitória do PS sem maioria absoluta, para que as decisões no Parlamento fossem tomadas, à esquerda, por maioria significativa. PS, PCP e BE não chegaram a acordo. Aprovado o programa de governo havia a prova de fogo: o OE. Já passaram 2, com maioria simples e, assim, estão (?) criadas as condições para uma estabilidade governativa e social de que o país carece e não pode desperdiçar.
Porém, na atual situação pandémica que já vai no segundo ano civil, o Estado Social e Educativo estão sob forte foco, provocando o caos na SS e, tendo em conta as muitas carências dos milhares de desempregados, trabalhadores, pensionistas e empresários, o governo tem vindo a “contribuir” com elevada atenção para estas áreas “esquecendo”, por vezes, os outros ramos da governação!
Não sei o que é a “cláusula travão orçamental”; imagino que seja algo do tipo: “pé no travão para que a descida não dê em despiste e tragédia”. Ora, não tendo sido negados todos os apoios que o OE e a nossa economia permitem distribuir para obstar a tantas dificuldades e carências, não se entende como pode o PSD “aprovar” entrave de tantos milhões mensais às contas em vigor, tanto mais que são totalmente incompatíveis as políticas propostas por este partido com as de PCP e BE. Vejamos, por exemplo, o caso concreto dos cortes nos subsídios sociais nos Açores e cujo acordo “prevê” a sua implementação para o Continente!
Espantoso para mim, ou talvez não, foi a promulgação do PR dos projetos de lei dos apoios sociais, apesar da nuance de que espera que o governo recorra aos mecanismos de fiscalização constitucional sucessiva!
Estou a imaginar o que estaria neste momento a conjeturar o autor da frase supra se, como parece periodicamente querer demonstrar, ainda estivesse no exercício de funções…
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