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“Estou confiante na recuperação do setor têxtil em 2024”

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Depois de momentos muito conturbados em 2023, o setor têxtil começa o ano com ligeiros sinais de recuperação, que se vão confirmar na primavera. Esta é a convicção de Mário Jorge Machado, presidente da Associação Têxtil e Vestuário de Portugal (ATP), cuja sede é em Famalicão, que, em entrevista ao OPINIÃO PÚBLICA, garante estar otimista, mas recorda que a nível mundial se continuam a viver momentos muito complexos a nível geopolítico e económico. 

“O ano de 2023 foi fraco para o setor. As nossas exportações, em termos de valor, vão terminar com menos 5%. Ficaremos em cerca de 5,8 mil milhões de euros, isto depois do recorde absoluto vivido em 2022, em que chegamos aos 6,1 mil milhões”.

O setor têxtil, “sendo tão globalizado e tão importante”, gera comportamentos aos consumidores que se vão ajustando e que são influenciados pela inflação, taxas de juro e notícias. 

Assim, o recorde de 2022 “não acontece por acaso”, no entender do presidente da ATP, que aponta o pós pandemia para a subida. A mesma explicação cabe para o ano passado, em que a guerra tomou conta do dia a dia das pessoas e fez esmorecer os investimentos.

Mas os números de 2023 do setor não são tão lineares depois de analisados, tal como avança Mário Jorge Machado. Ou seja, Portugal cresceu menos 5% nas exportações, mas, no global, a União Europeia importou menos 12% e a Alemanha, “um cliente muito importante” teve um crescimento na ordem dos 0,2%. 

“Na prática, isto quer dizer que ganhamos quota de mercado. Não estamos a perder clientes, pelo contrário estamos a ganhar, mas os nossos clientes estão a comprar menos devido à conjuntura”. 

Contas feitas, tendo em linha de conta que o setor têxtil português é predominantemente exportador, e que apenas 20% é para consumo interno, a dinâmica do exterior “afeta muito o que se passa em Portugal”. 

Olhando para as próximas semanas, Mário Jorge Machado revela um otimismo controlado. Desde logo, porque em março temos as eleições legislativas, “o que provoca sempre alguma incerteza”.

O cenário mais provável, aponta o presidente da ATP, é o setor sentir uma recuperação mais encorpada a partir de 2024, “especialmente a partir do segundo semestre”.

Aliás, a prova da confiança na recuperação é que, apesar da crise que se está a sentir, o desemprego não está a subir, porque as empresas estão a tentar reter os seus talentos.

“O mercado, começando a ter mais procura, o primeiro país onde essa procura se vai fazer sentir é em Portugal e, especialmente em Famalicão”, augura.

“Políticas pouco ambiciosas”

Em diversas ocasiões Mário Jorge Machado tem deixado clara a sua posição quanto às políticas económicas em Portugal. O presidente da Associação dos empresários têxteis queixa-se dos governos dos últimos anos “que têm sido pouco ambiciosos em termos de dar condições” para as empresas se puderem expandir.

“Temos uma regulamentação, em termos globais, que é limitadora do investimento e da criação de riqueza”, diz o presidente, que defende reformas profundas na legislação laboral, “que é das mais rígidas do mundo”. “É uma das causas principais para que o crescimento dos salários seja limitado. É uma das causas principais para a falta de vontade dos empresários em investir para crescer”.

Para o representante dos empresários, têm sido dados pequenos passos e elogia a produtividade dos trabalhadores portugueses no estrangeiro, “onde lhes são dadas outras condições”.

“Foi criada em Portugal uma ideia que os empresários são más pessoas e que contratam trabalhadores para os despedir. Não. As pessoas são o recurso mais importante que uma organização tem”, diz Mário Jorge Machado, que defende, desta forma, mais flexibilidade para as empresas crescerem e ajustarem-se.

Sobre a falta de mão de obra qualificada, que algumas empresas se queixam, o responsável crê que, neste momento, não se sinta, desde logo, porque houve uma redução de encomendas. “Neste último ano, 75% das empresas manteve a mão de obra e 15% até aumentou”. E a explicação é simples, segundo Mário Jorge Machado, que reitera que as empresas estão confiantes na retoma a todo o vapor.

Mas o cenário vai mudar, alerta o empresário, com a recuperação que se espera no setor. Aí sim, vai sentir-se a falta de mão de obra, “o que vai limitar o crescimento das empresas”.

Frequentador assíduo das feiras têxteis mundiais, o responsável assume que os portugueses “são demasiado humildes” quanto à sua qualidade e não tem dúvidas que os têxteis nacionais “são mesmo os melhores do mundo”. “O nosso know how é do melhor que existe no mundo. Estamos na Liga dos Campeões”.

No próximo ano termina o segundo e último mandato de Mário Jorge Machado à frente da ATP, algo que é encarado pelo próprio como o fim natural de um ciclo. “É um trabalho muito desafiante, mas que permite dar novas perspectivas. Espero ter sido merecedor de poder dar continuidade ao bom trabalho que foi feito pelos meus antecessores”.

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