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Famalicão

Refood de Famalicão apoia mais de 400 pessoas que precisam de ajuda para comer

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São exatamente 209 pessoas que todas as semanas deixam as suas vidas, a família, os amigos e a sua zona de conforto e se dedicam a ajudar o próximo. E este trabalho voluntário traduz-se em refeições para mais de 400 pessoas, que dependem desta ajuda para comer. E são ajudadas sem perguntas.

De forma muito sintética, isto resume a Refood de Famalicão, que a par das suas congéneres nacionais e internacionais, resgata toneladas de boa comida para ajudar a eliminar o desperdício e alimentar pessoas que precisam. É criada uma ponte entre o excesso e a necessidade. O dia a dia está bem oleado e nada falha. Não pode falhar.

Todos os dias, à mesma hora, os voluntários chegam para cumprir o seu turno. Os sacos estão alinhados e numerados, as várias caixas com fruta e legumes dizem que a “colheita” do dia foi proveitosa. No espaço ao lado, diversas mulheres dividem a comida que existe pelos recipientes. Há sardinhas, arroz, sopa, massa, carne e muito pão e bolos. A azáfama é grande, mas cada um já sabe exatamente o que tem a fazer.

A hora de jantar aproxima-se e as filas de pessoas para ir buscar comida começa a engrossar. E, todos os anos, são cada vez mais as pessoas que precisam de ajuda.

“Há uma subida grande. Do ano passado para este, na altura do Natal, tivemos um aumento para o dobro”, frisa Ângela Gomes, voluntária na Refood desde o primeiro dia.

Neste momento, são apoiados 217 agregados, 443 pessoas, sendo que destas, 217 são crianças. “O ano passado os números eram bem mais reduzidos”, reitera Ângela Gomes, que recorda as muitas famílias que vieram para Famalicão doutros países.

Mas afinal como é que se processa esta ajuda? Quem é que dá para ser dado? Em Famalicão existem diversos parceiros da Refood, sobretudo supermercados e restaurantes.

“Tudo aquilo que nos supermercados iria para o lixo é reaproveitado por nós. Não é comida que não está em condições de consumir”, faz questão de explicar a voluntária, que acrescenta que estes alimentos “apenas não obedecem aos padrões de beleza dos supermercados”. Mesmo assim, tudo o que chega à Refood sofre uma triagem e o que não está em condições é excluído. Mas, levando à letra a máxima da instituição, é reaproveitado e vai para a compostagem.

Novas instalações são um sonho

O núcleo da Refood começou a funcionar em fevereiro de 2015, há quase nove anos.

O Centro de Operações funciona, desde sempre, nas antigas instalações da APPACM, perto da Estação da CP. Mas o espaço tornou-se pequeno para o tamanho da ajuda que é dada e espera-se que a mudança seja uma realidade a curto prazo.

Mas a preocupação diária passa por garantir que os excedentes e os parceiros cheguem para os pedidos de ajuda. A lista é extensa, mas não está longe de ser a ideal. “Os parceiros que temos não chegam. Precisamos de mais, até para dar resposta a outros pedidos de ajuda. Neste momento não podemos receber mais ninguém”, explica Ana Carvalho, também voluntária na Refood desde a primeira hora, que tem nos parceiros o eixo fundamental para o funcionamento da instituição. “São eles que nos fazem chegar tudo, sejam alimentos, consumíveis, donativos que se podem transformar em géneros…Todos os que se queiram associar a nós são sempre bem-vindos”, apela.

E quem são os mais de 200 voluntários que todas as semanas se movimentam? Jovens, pessoas mais velhas, estudantes, reformadas ou mais ocupadas. Vêm de vários quadrantes sociais e as idades também variam muito, mas os motivos são sempre os mesmos: ajudar o próximo. É o caso de Maria José, que tinha acabado de completar 75 anos de vida. “Para já, não gosto de estar sentadinha no sofá e, depois, gosto de ajudar as pessoas. Faço três turnos por semana e gosto de me sentir útil”, explicou prontamente e orgulhosamente por fazer voluntariado desde o início da Refood em Famalicão.

O mesmo motivo tem Maria da Conceição, que com 63 anos, “passa muitas horas na Refood”. “Estou cá desde o início e passo cá muitas horas”, explicou.

A Helena Rodrigues tem 19 anos é estudante e tem menos tempo livre, mas isso não a impede de todas as semanas cumprir o seu turno de duas horas. “Sou uma pessoa que gosta de ajudar os outros e sinto-me feliz a fazer isto”.

Natal é especial na Refood

O Natal é também uma época especial para a Refood de Famalicão, que avançou com uma operação especial.

“Famalicão é uma cidade têxtil. Então por que não pegarmos em tecidos, que estão a ser costurados pelos seniores, com muito amor e cuidado, e transformá-los em sacos para serem utilizados diariamente?”, questiona-se Ana Carvalho, orgulhosa da quantidade de pessoas envolvidas na campanha natalícia, que estão empenhadas em devolver à comunidade o tecido que, doutra forma, não seria aproveitado.

Assim, todos os beneficiários da Refood vão receber um cabaz, com o lema, bem presente, da dignidade humana. “Vão receber em sua casa, por uma brigada de pais natais, respeitando sempre a sua privacidade e identidade”. Para toda a operação está a ser mobilizado um conjunto alargado de pessoas, que estão a recolher alimentos em empresas, instituições, organizações e escolas. “Tudo isto vai ser preparado por uma linha de montagem de pais e mães Natais, que depois vão à casa das pessoas”. A campanha de Natal tem o seu ponto alto no próximo domingo, dia 17, momento em que vão ser entregues os cabazes às famílias.

Para Ana Carvalho o motivo de estar na Refood não é, sequer, discutível. Mãe, esposa, trabalhadora, mas também voluntária. “Eu acho que é a nossa missão é dignificar o nosso mundo e se cada um fizer a sua parte isto corre bem. Não sei onde vou buscar energia, mas se calhar na nossa família, amigos, comunidade… É bom ver que, fruto deste trabalho coletivo, recuperámos sorrisos, vidas”.

Em Portugal, operam mais de 60 núcleos locais da Refood, que trabalham junto das suas comunidades. É nas áreas metropolitanas do Porto e Lisboa onde se concentram o maior número de núcleos.

A Refood nasceu no bairro de Tetuán, em Madrid, Espanha, e hoje já existem núcleos também em Itália, Brasil e em algumas localidades dos Estados Unidos da América.

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