ESPECIAL
“Os indicadores apontam para que este seja o melhor ano de sempre no volume de exportações”
Perante os dados do ano passado, que indicam valores de exportações recordes no têxtil, o vereador da Economia e Empreendedorismo da Câmara Municipal de Famalicão está otimista. Nesta entrevista ao OPINIÃO PÚBLICA, Augusto Lima aponta para uma mudança de paradigma nas políticas municipais para o setor.
OPINIÃO PÚBLICA: Famalicão tem-se consolidado, segundo os últimos dados, como o município mais exportador do Norte e terceiro do país. No que diz respeito ao peso dos vários setores nas exportações do município, o Têxtil e Vestuário continua a representar a maior fatia das exportações. Significa que, apesar das várias crises, este setor continua um caminho de resiliência?
Augusto Lima: Sempre foi assim. O têxtil e vestuário tem-se reinventado e moldado às circunstâncias. Nos últimos anos a indústria soube reorganizar-se e estruturar-se e os indicadores que temos apontam para que este seja o melhor ano de sempre no volume de exportações do setor. E os resultados são naturalmente fruto de resiliência, de determinação e de permanente adaptação ao mercado, com apostas na qualidade, na diferenciação e em capacidade de criar novos produtos, processos e serviços. A título de exemplo, repare-se na importância dos têxteis técnicos, que já representam 1/3 das exportações, um valor que cresceu no último ano quase 13%.
Segundo os números mais recentes, o setor da indústria têxtil e do vestuário fechou 2022 com um volume de exportações recorde próximo dos 6.000 milhões de euros. Não obstante, há uma precupação generalizada junto dos empresários do setor devido ao forte recuo nas encomendas desde o verão. Isto é também o que lhe chega dos empresários famalicenses?
Os dados provisórios do INE (reportados a novembro e no período homologo) dão-nos um crescimento recorde, na ordem dos 20%, ligeiramente acima dos 570 milhões de euros nas exportações. É um indicador de que se está a fazer muito e bem. O receio tem a ver com as circunstâncias atuais, seja da pandemia, da guerra ou da inflação. Mas, até pela resposta a outras crises, estou convencido que o setor dará novamente uma resposta positiva aos constrangimentos atuais e futuros.
No início do ano passado, exatamente no mês de janeiro, havia a perspetiva de perda de postos de trabalho e empresas que poderiam encerrar por causa da pandemia de Covid 19.
Existe um número de empresas que encerraram em Famalicão, ou isto acabou por não acontecer?
Não houve impacto significativo e os números do crescimento no volume de negócios e nas exportações dão-nos uma visão precisamente do contrário. Do contacto que fomos tendo ao longo do ano com os responsáveis do setor e com as empresas, continua a existir necessidade de pessoas especializadas e de grau técnico para contratar.
Na verdade, e tal como tem sido sublinhado várias vezes, o têxtil tem uma história de forte resistência, tendo-se ajustado ao longo dos anos, perante diversas crises. É o que está a acontecer neste momento?
É. O setor tem apostado forte na investigação e inovação, na criação de novos produtos e segmentos como o automóvel, a saúde, a proteção individual, o desporto. O facto de termos aqui instalado o Citeve e o Centi, muito vocacionados para o desenvolvimento de produtos com elevado grau de tecnicidade, de valor acrescentado e para nichos de mercado onde a qualidade é o primeiro fator de escolha do cliente, é fator de diferenciação que permite às empresas estar a viver esta fase pujante e de crescimento. Os últimos anos têm sido também de investimentos significativos na digitalização – que permite melhorar os serviços de entrega – e na transformação da indústria, com novos métodos de produção, que facilitam depois esta capacidade de atuar no mercado e criar, digamos assim, alguma proteção à diminuição da procura. Há uma enorme diferença entre aquilo que é uma empresa hoje e o que era há 5/10 anos atrás.
Pode-se dizer que este setor está a ressurgir em força?
Está a crescer pela capacidade instalada, pela criatividade dos nossos empreendedores, pelo dinamismo dos centros de investigação e, todo este conjunto, a par dos muitos anos de história do têxtil e vestuário em Famalicão, faz-nos estar na linha da frente em tudo que é programa de futuro. Os novos desafios da sustentabilidade, por exemplo, faz-nos ter confiança no futuro do têxtil de Famalicão, porque as nossas empresas já estão a trabalhar há muito nesta ideia e já estão no mercado com produto para satisfazer as exigências do futuro, ou seja, estão a transformar a necessidade num negócio.
Quais são as medidas que a Câmara Municipal continua a implementar para ajudar o setor?
A mudança de paradigma. Do Made IN ao Created IN, do fazer, ao criar. É um novo paradigma para a indústria no que concerne às políticas municipais. E são várias as iniciativas que lhe estão associadas:
– As missões de inovação, em que levamos investigadores às empresas para perceberem as suas necessidades e articular o trabalho científico e de investigação com essas necessidades. É nossa missão neste particular, criar condições para atrair e reter talento no concelho, e estamos a fazê-lo, com diversos eixos de intervenção.
– O apoio à internacionalização, à participação em feiras e à valorização do que é feito cá, fora de portas.
– Um trabalho importante na promoção e divulgação do trabalho das empresas, através dos roteiros
– No caso concreto do têxtil, o apoio que temos dado à realização e à participação em forúm especializados do setor – de que é exemplo do iTechSummit, um encontro que discutiu o futuro do têxtil e vestuário, as suas novas tendências, promovendo e afirmando por essa via a marca «Famalicão, Cidade Têxtil».
Considera que a marca “Famalicão, Cidade Têxtil”, tem sido uma mais valia para o reconhecimento das empresas famalicenses?
Naturalmente. O têxtil e vestuário é uma marca identitária do concelho e este posicionamento gera-nos notoriedade nacional e internacional. Temos inúmeras empresas de referência mundial no setor, abraçamos os desafios da instalação aqui dos centros tecnológicos do setor, temos também aqui a sede da maior associação do setor, a ATP – Associação Têxtil e Vestuário de Portugal, o próprio Museu da Indústria Têxtil, Bacia do Ave, que nos faz o retrato histórico desta designação. Sempre fomos o epicentro do têxtil e vestuário e queremos continuar a ser a linha que junta as várias peças do setor em Portugal e internacionalmente, afirmando a marca Cidade Têxtil cada vez mais neste contexto.
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